Lembro-me de toda a minha vida dizer que, acontecesse o que acontecesse, o meu maior desejo era não envelhecer amarga. Este para mim era, um pensamento, muito recorrente.
À medida que envelhecemos e com os desaires da vida, há uma tendência para nos decepcionarmos com o rumo que as coisas tomam.
Não foi para isto que vim!
Esquecemo-nos que a vida no planeta terra não é suposto ser fácil ( admito que talvez ninguém nos alerte para este facto). Viver não é um passeio no parque.
Vamos vivendo e somos traídos, enganados, trocados, despedidos, desconsiderados, desrespeitados e isto marca. Marca muito! E eu não queria, de maneira nenhuma, envelhecer amarga!
Houve alturas na minha vida que vi o caso mal parado. Sim, eu também, já foi trocada, abandonada, desrespeitada, desconsiderada, traída… Por momentos deixei de me sentir “tocada” pela vida e pelos outros. Fechar é o caminho directo que arranjamos para não sofrer. Cedo percebi que não sofria porque não vivia. Não sofrer era um preço muito alto a pagar. Não estava disponível para isso.
Durou 2 anos. Não sentia. Não me envolvia. Não sonhava. Não acreditava em nada. Achei que não sairia dali. Senti-me traída pela vida! E estava a acontecer o que tanto temia. Tinha-me tornado uma mulher amarga.
Não sei exactamente o que mudou. Não há dia e hora marcada para este acontecimento. Sei que bati no fundo. E só quem bate no fundo toma balanço!
Foram 2 anos em que não via luz. Tudo tinha dado errado na minha vida ( pensava eu) não vendo a benção que a vida me estava a dar.
Quando eu digo que não via a luz, não via mesmo. Nada me aquecia o coração. Nem os meus filhos e nem o meu companheiro. E ali não faltava amor.…mas eu tinha deixado de me tocar.
Estava um farrapo. Profissionalmente não me encontrava, emocionalmente em dor profunda, a minha relação a ir pelo cano porque eu deixei de colocar energia… enfim um caos. Nunca escondi o que sentia. Sempre escrevi sobre isso. Não sabia, sequer, se algum dia isto passaria. Mas passou! Ai se passou! E quando passou renasci! Não me reconheço na outra mulher.
Quando a recordo tenha tanta compaixão e amor por ela. Hoje, no ano em que faço 50, sinto que tudo na minha vida me conduziu aqui. A esta consciência que a vida é desafio e esta tudo ok com isso.
Que eu nunca, nunca mas nunca, perca esta capacidade de me deixar tocar pela vida!
De me deixar tocar pela dor dos outros, por sentir como minha a sua dor e querer ajudar.