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“When you are felling down and out TRAVEL ALONE will save you”

Confesso que nunca tinha percebido o fascínio que certas pessoas sentem em viajar sozinhas. Aquilo confundia-me pra caraças.

Qual o prazer em estar-se sozinho num destino desconhecido? Porque raio alguém há-de gostar de estar sem falar com ninguém, sem companhia e longe de casa?

Pensei sobre isto anos… falava com pessoas que gostavam de viajar sozinhas… ouvia-os com atenção e… continuava sem perceber a coisa!

Deus me livre de me meter numa coisas dessas!

Sentia uma admiração profunda por essas pessoas! Porque jamais me via nesse papel.

Levei muito tempo a admitir que era por medo! Medo de não ser capaz! Medo de não estar à altura do desafio. Medo de não ser capaz de tirar prazer dessa experiência. Medo de não ser, sequer, capaz de entrar num restaurante sozinha e desfrutar de uma refeição.

Quando admiti que era medo o que me prendia, tomei a decisão de superá-lo. Há medos que tenho e que nem tento superá-los. Por exemplo saltar de pára-quedas. No Way! Acho que morro antes de chegar. Tenho, mesmo, aquela sensação que o meu coração vai parar! Nem tento mudar isto! Para quê? Nop.

Mas há medos que quando os descubro superá-los torna-se imperativo! Isto não é um processo fácil. Começo com as minhas, sempre, muito sensatas desculpas. Tenho algumas e este diálogo interior é incrivelmente cansativo. Coisas como ” deixa-te estar sossegada, não tens nada a provar”. Também gosto deste ” porra já passaste por tanto sozinha. Não te chega?” ou ” tens de ver em terapia esta questão de não conseguires estar bem sem desafios. Parece que só funcionas no caos! Trato isto depois em terapia. Não preciso de enfrentar nada agora.” Esta da terapia é a última das desculpas.

Mas lá dei a volta a isto. Há medos que nos batem de frente e sabemos que, se não os enfrentamos, não vamos conseguir olhar-nos da mesma forma ao espelho. É como quando descobres um segredo e não podes viver com isso, tens de resolver.

Todas as minhas grandes decisões vieram de lugares de dor. De medo! De situações limite!

A minha dor não é maior nem menor do que a de ninguém. Mas é a minha. É a que sinto como gigante! É aquela que tenho que resolver!

E para ser honesta, todas as minhas dores e frustrações, resolvi sozinha. Não pego no telefone para procurar ajuda. Não chateio ninguém com as minhas coisas. Resolvo sozinha e pronto. E não acho que isto esteja errado! Eu sou assim. Como ouvi há alguns anos ( desculpem não me lembro do nome de quem diz isto), ” É comigo, eu resolvo!” E resolvo! Sofro, choro, desespero, penso, sempre, que é desta que não aguento mas aguento pois!

Descobri em mim, nos meus recursos, na minha fé, a cura para todos os meus desafios. Ninguém me pode dar aquilo que eu me dou. Ninguém. Podem acrescentar um pouco de tempero. Sim acrescentam. Mas não são o cozinhado. Esse sou eu que o cozinho!

Num desses momentos de sofrimento ( nestes últimos 2 anos já perdi conta às vezes que fui ao chão), resolvi enfrentar este meu medo.

Penso, sempre, que não pode ficar muito pior! E, nesses momentos, que eu chamo o meu “Fuck it moment!”, tomo decisões incríveis. Aquelas decisões que estás sempre com cagaço de tomar? Eu tomo nestes momentos. A coisa já está tão cinzenta. Aproveito que estou no olho do furacão e resolvo tudo de uma vez.

E, pronto, resolvi viajar sozinha em lazer. Já viajei em trabalho, já viajei para ir ter com alguém mas aquela viagem que programas para ires sozinha e fazer cenas sozinha. Isso para mim era novidade.

Acho, mesmo, que isto não é para todos. Há pessoas que nunca tirarão partido disto mas deviam fazer. Porque, mesmo que não tirem o partido que acham que podiam tirar, descobrem-se. E não há melhor viagem que essa.

Eu penso muito sobre as coisas ( muito mais do que gostaria). Portanto comecei por analisar o que me prendia. Descasquei todas as desculpas. A que estava a aparecer com mais força era que o meu inglês estava muito enferrujado. Não me sentia confortável em viajar sozinha sem ter um inglês que eu aprovasse. Diga-se que sou muito exigente comigo e, portanto, não fácil de agradar.

Como já me conheço e sei que posso sabotar-me à grande. Marquei o avião e o alojamento. Assim não teria grandes desculpas. Havia dinheiro envolvido ( se bem que para mim quando me dá a travadinha, nada me pára, nem mesmo se já investi dinheiro mas era um bom princípio). A seguir marquei aulas privadas de inglês. Just chat chat.

Marquei tudo no inicio de Setembro e cá estou.

A coisa complicou-se com o Covid. Testes feito na altura errada, tive de mudar voo e fazer teste à pressa mas lá embarquei.

Na noite anterior mal dormi 4 horas. Um misto de ansiedade e excitação. Sei, por experiência própria, que quanto mais temo uma coisa, mais partido irei tirar da experiência.

Cá estou e já tenho alguns insights:

Viajar sozinha é espetacular! Aumenta imenso a nossa auto-estima. Há um empowerment imediato! Aquela sensação eu sou capaz de fazer isto! E até gosto!

Descobri uma coisa extraordinária. E senti isto profundamente. Uma cuidadora, como eu sou e muitas mulheres são, passam o tempo a pensar nos outros, preocupadas com os outros e se eles estão bem. Viajar sozinha traz zero negociação. Zero preocupação com o outro, o seu bem-estar, os seus gostos, horários ou necessidades. Isto é tudo, tudinho, sobre mim, O que me apetece, o que gosto, a que horas gosto e se não gosto não tenho que explicar nada a ninguém. E isto é absolutamente incrível. Nunca tinha experimentado esta sensação. Não tenho horas, agendas, e ninguém a quem agradar! QUE BOM QUE ISTO É!

Por exemplo almoço e janto ao mesmo tempo. Tomo o pequeno-almoço e depois só volto a ter fome pelas 18h. E vou comer nessa altura. Praticar estes horários com alguém não e fácil. Comigo é perfeito! É o meu ritmo.

Outro exemplo, saio de casa às horas que me apetece. Não tenho horário. Não tenho planos. Vou andando pelas ruas… por ai… sem rumo… e isto é fantástico quando te tens só a ti. Porque vou para a esquerda ou para a direita, ou fico parada no meio do nada a pensar na vida. E não preciso justificar nada a ninguém. Passamos a vida a explicar-nos, a justificar-nos. Porque queremos isto ou aquilo, Porque somos assim ou assado. Fuck it! Não tenho que explicar nada. Simplesmente sou!

Outra coisa que descobri é que me torno uma observadora eximia. Eu já sou óptima a observar mas aqui torno-me expertise. Estou horas em silêncio a observar. Adoro observar a natureza e deixar-me tocar por ela mas são as pessoas que me fascinam. A natureza inspira-me e centra-me, os humanos ensinam-me. Aprendo muito sobre mim e sobre as relações, observando os outros. Normalmente não tenho tempo para estar assim atenta.

Também tenho vindo a descobrir a arte de me amar, mais e mais. De me mimar. De me respeitar. De me embelezar. Há tempo para tudo. Durmo o que o meu corpo pede. Deito-me quando caio para o lado de sono. Não tenho, sequer, olhado para as horas, Deixo-me fluir com a vida…

Jantar sozinha ( que era das minhas principais objecções) tem sido uma agradável surpresa. A comida tem-me sabido pela vida. E o vinho também. Como não há distrações, os sentidos ficam mais limpos e apurados. O foco é total no que está a acontecer comigo.

O meu ingles flui e está incrível. Confesso que tenho a melhor professora do mundo. Já estou a planear a próxima. Quero fazer isto uma vez por ano.

E tu? Já experimentaste?

4 Comments

  • Ana Campos
    Posted Janeiro 6, 2022 00:19 0Likes

    Já viajei sozinha para Nova York e adorei a experiência. Revi-me em muito do que escreveste. Temos muito em comum e por isso admiro-te e adoro-te.
    Assim que passe este pesadelo quero muito falar contigo porque em Abril também vou sozinha para Roma (já viste a coincidência?) e vais-me dar umas dicas, boa?
    Obrigada pela tua partilha.
    Beijinho grande

    • elsabraga
      Posted Janeiro 7, 2022 14:06 0Likes

      Minha querida!
      És um amor!
      Tenho um roteiro para ti! Muitas sugestões!
      Love you

  • Inês
    Posted Janeiro 28, 2022 19:03 0Likes

    Belo post.
    Muito interessante descobrir que sou muito pouco especial e que os meus medos & alegrias são partilhados tão integralmente por outro(s) sere(s).
    Viajo muito sozinha. Hoje em dia, prefiro.

    • elsabraga
      Posted Janeiro 28, 2022 19:23 0Likes

      Inês, muito obrigada pelo comentário. Quando escrevo acho que ninguém vai ler. Fico muito sensibilizada quando percebo que alguém, muito especial ;), tirou um pouco do seu tempo ( hoje tão contado) para me ler.
      Muito, muito grata

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