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Quando o jantar já não é para 3!

Sei que muitas mães passam por isto. A saída dos filhos de casa! Eu sei!

Vejo, e felizmente cada vez mais, a desmistificação da maternidade.

Vejo a coragem de muitas mulheres em assumirem que a maternidade pode ser um pesadelo. Que nada disto nos foi dito enquanto crescíamos. E sim, a maternidade pode ser um pesadelo. A gravidez pode ser um pesadelo, um recém-nascido pode ser um pesadelo. Tudo o que vivemos enquanto mães pode ser um pesadelo. E está tudo certo com isso ou talvez não esteja tudo certo. Mas é como é!

Os bebés não são criaturas perfeitas de um mundo encantado vindas aqui para tornar a nossa vida num conto de fadas!

Anyway na verdade já nem me lembro muito bem como isso foi! Sei que os primeiros meses de vida dos meus filhos foram uma tortura. E eu não tinha ninguém para falar sobre isso. Sei a emoção que ficou e a sensação de ter sobrevivido nem sei bem como!

Claro que pagaria mais tarde esta exaustão! Esta confusão! Essa falta de validação de “ É normal o que sentes! É normal estarás arrependida! É normal sentires-te traída porque ninguém te falou nisto! É normal! Sente e deixa vir cá para fora! Estou aqui para ti! E vou ajudar-te a passar por isso da melhor forma possível!”

Não havia redes sociais. Não havia círculos de mulheres, não havia tribos formais. Havia as que tinham a sorte de ter uma família que apoiava. Eu não tive essa sorte. Vivi tudo em silêncio e sozinha. A fazer o meu melhor e a fazer imensa asneira. Temos pena! É a vida a acontecer!

Já não estou ai! Estou 23 anos depois… filhos grandes, crescidos! Já nem sequer adolescentes. São jovens adultos. Sou mãe de jovens adultos! Fuck!!!

Este ano faço 50. E que marco! E que idade!

Quando entram no final da adolescência, pelos 16/17 começas a notar uma diminuição do “Mãeeeeee!” aquele Mãe que ecoa pela casa, que preenche todos os espaços e todos os poros do teu ser.

Mãe isto

Mãe aquilo

Mãe vais-me buscar?

Mãe o que é o jantar

Oh Mãe…

Mãe onde está a minha camisola?

Mãe viste o meu telefone?

Ai Mãe que estou tão triste

Ai Mãe que acho eu não vou passar neste exame

O telefone não para com sms e chamadas.

e… de repente… fica um silêncio e começas tu

Filhos está tudo bem?

Filhos precisam de alguma coisa?

Filhos têm dinheiro para o almoço?

Filhos…. e eles já não estão lá!

Quer dizer entram e saem… passam pela sala à corrida porque têm planos, encontros, saídas combinadas.

E tu vês os teus meninos crescidos e sorris. É normal!

Que lindos estão! Que crescidos! E vês a sua relação com o mundo! Com a vida e ficas com aquela sensação de dever cumprido! E, também, comprido porque foi longa a tarefa. Demasiado longa. Tão longa, tão intensa e tão imersiva que nem deste pelo tempo passar. E já foi!

Hoje falo-te do dia em que eles saem.

Saem porque têm de sair. Saem porque vão viver a sua vida longe de ti. Saem porque cresceram e vão estudar para longe. Saem por que se apaixonam e vão viver com alguém. Saem porque a mãe tem regras que não lhes fazem sentido.

Saem!

E agora?! O que fica?

Olha ficas tu! 23 anos depois ficas tu!

Disse uma vez a um médico quando estava a sair do hospital com o meu 2º filho que me perguntou como me sentia e que devia ficar mais uns dias (pedi para sair na manhã seguinte ao parto): “A minha vida mudou no dia em que fui mãe pela 1ªa vez.  Há um AC no calendário da Humanidade e no meu calendário há um AM (antes da Mariana) e um DM (depois da Mariana). Agora é levar esta cria para casa e amá-la. Estou pronta para isso. Não quero ficar aqui!”

Tudo acontece na hora certa. O relógio biológico é perfeito. Não é por acaso que há transformações tão profundas na mulher mais ou menos na mesma altura em que os filhos saem de casa. A menopausa vem no momento que coincide, mais coisa menos coisa, com a saída dos filhos de casa. Claro que nas sociedades modernas isto está um pouco diferente, mas para mim não! Para mim bate certo!

Vim-me preparando para isto. Como nos preparamos para um fim de capítulo. Como nos preparamos quando nos despedimos de alguém. Conclusão nunca estamos realmente preparadas! Aquele dia que vais buscar à “cave” o arsenal que foste compilando para usares nos dias que são precisos. Utilizo o termo “cave” e não utilizo “sótão” porque têm significados diferentes. Um simboliza as profundezas da tua vida aqui vivida, as catacumbas, os segredos escondidos, mas existem vestígios dele. Podes estar esquecida, mas estão lá! O outro simboliza o inconsciente, o onírico, o que não sabes que existe, mas está lá… ui se está! Um dia destes vamos ao sótão!

Esta minha descida à cave é planeada. Mas como bem sabes de cada vez que vamos à cave o que lá encontras é tralha, tralha e mais tralha. As porcarias que guardamos porque um dia podem fazer falta. E, quando dás por ti, já estás agarrada ao passado. Sabes do que falo, não é? Não é preciso muito. Uma merdinha de uma peça de roupa que te leva para aquele dia… um móvel que te lembra aquela situação. Porra… já foste! Já estás a recordar a tua vida! A melancolia instala-se! A nostalgia é convidada a entrar! E aqui está tudo lixado. Se não preparaste esta viagem o que pode acontecer é duro!

Preparei-me! Mas não tem sido menos leve!

Mergulho nas águas profundas da minha vida! Tenho chorado muito, muitíssimo, de saudades! De culpa! De alegria! De tristeza!

E não ser leve não significa que não seja bom. Estou a fazer o meu luto. Um luto da mãe de filhos adolescentes. Já fiz outros lutos, mas não são iguais porque as fases que se seguem são sempre intensas e não te dão espaço para sentir. Acaba uma fase e começa outra. Se estiveres distraída não dás por elas. Parecem um continuo. Mas não são. E é importante separá-las.

Aqui há um corte físico. E, se tudo correr bem, eles não voltam para casa.

E abre-se espaço para ti! E se não preparaste esse espaço isto dói muito mais.

Eu sou mãe divorciada. Vivo sozinha com os meus filhos há muitos anos, portanto o espaço, é bem maior. Repara que não escrevo propositalmente vazio. Não é vazio que sinto. E se for é, ainda, mais chato.  É espaço. Eu não estou vazio. Eu não sou vazia!

Bem pelo contrário considero-me muito rica. Estou cheia de coisas (muita delas dispensava, mas estão cá!)

Por coincidência, ou talvez não, o trabalho desacelerou nesta fase. Que linda coincidência. Eu não me quero distrair de sentir. Eu não quero passar ao lado desta fase tão bonita da minha vida. Não sei se acho, mesmo, isto ou escrevo para me convencer… daqui a uns tempos irei perceber.

No meio desta intensa fase há uma frase que ouvi há muitos anos dita pelo Wayne Dyer (mas não é dele) e com ela termino

Let go and Let GOD!

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